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A prática artística de Gonzague Verdenal expressa-se em duas dimensões essenciais: imagem e linguagem. Seu trabalho envolve performances, instalações interativas, livros e desenhos.  

 

Como parte de seu trabalho exploratório sobre a imagem, ele se interessa principalmente pelo meio da imagem, mais especificamente a mão (ou as mãos) como suporte que revela pouco a pouce a imagem através de movimentos no espaço (Pituba R1 (Instalação) / Galerie Canizares ou 500 watts (Instalação) / Maison de la Culture Rosemont). Se ele usa projetores em um espaço onde a mão é convidada a fixar a nitidez da imagem no vazio, ele também usa espelhos como meio de recriar "túneis" que, por acumulação e em uma perspectiva estudada e indicada, permitem levar a lugares improváveis (Hg-80 - Tunnel (Instalação) / Centre d'Histoire de Montréal.

 

Este convite para revelar a imagem é muitas vezes acompanhado de confusão e obstáculos deliberados. Freqüentemente, o visitante é preso a um carretel de fio que se desenrola enquanto percorre o espaço de exposição (Corredores Hg-80 / Dare-Dare) (Pituba R1 / Galeria Canizares). Para a apresentação da série díptico (Quem muito se evita, se convive), as fotos são coladas na borda das paredes em uma rua movimentada, com pedras de pavimentação de forma irregular.

 

Mas as condições de obstáculo estão especialmente presentes durante a elaboração do desenho. Muito freqüentemente, este último é feito sentado em lugares apertados, ou em movimento, a fim de acompanhar e traçar uma forma imediata e fugaz, que deve finalmente revelar-se em alguns traços, como por magia pura.

 

Assim, os desenhos são feitos in situ: num avião (No vôo AC 871 / Série: O Espaço do Desenho), em ônibus em Salvador da Bahia no Brasil (Num ônibus sem amortecedor / Série: O Espaço do Desenho), em um pequeno elevador em Istambul, no trem transiberiano, durante um show, em uma bicicleta, ou mesmo enquanto anda com um amigo; um segurando um livro de desenho enquanto o outro desenha... 

 

Para acompanhar esta prática em movimento, inspirado no início pelos carnavais de rua de Salvador da Bahia, Gonzague terá aulas de balé clássico e de dança moderna. Ele imaginou que essas aulas de dança tornariam a linha do desenho mais fluida e que ela se libertaria de sua própria direção e se aproximaria de um movimento mais íntimo com as formas.

 

Esta relação mais íntima com as formas também se encontra nestes desenhos que representam formas do cotidiano: a posição de uma geladeira numa cozinha, as sandálias de verão dos amigos no terraço dum café... (Paisagens e objetos / Série: A invenção do Cotidiana). Mais uma vez, isso não se trata tanto de representar, mas sim de renovar esta presença primária, este contato "ardente" que acompanha as formas e que o uso da vida cotidiana tenta nos fazer esquecer.

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 Gonzague Verdenal |Aos 2 km de Radisson (QC) Canadá 

A segunda dimensão de sua prática é a linguagem. A primeira pesquisa levou a uma instalação (Le Mur Bleu, em 2003, em Montreal) e se aprofundou com a descoberta das câmaras anecóicas utilizadas nos submarinos, onde o alcance muito curto da palavra soprada se tornou um caminho de pesquisa sobre a relação entre espaço e palavra, mais precisamente com o traço da palavra pronunciada na materialidade do espaço. Em outros termos, como encaramos a palavra falada em um espaço? Como se pode encontrar o traço da própria voz no espaço?       

 

A instalação (Cada porta tem uma palavra como seu guardião / Espaço Bavna em Salvador de Bahia), propõe uma resposta à pergunta anterior. Aqui, o visitante é convidado a traçar sua voz em um espaço, notadamente em um pequeno e estreito corredor, geralmente reservado para o pessoal de serviço da galeria. Ao escrever uma palavra em tinta fresca, com uma cor específica, em um balão, o visitante pode então observar, na superfície tocada pelos balões que agora esvaziaram, os traços de sua voz junto com os de outras que se distinguem por outra cor. Além de marcar o espaço, a constelação de palavras, agora "liquefeita pela respiração", também se torna objeto de uma cartografia de vozes, do deslocamento de vozes no espaço, e assim se reconecta com uma palavra poética ou religiosa que transcenderia o espaço.       

 

Palavra mágica de encantamento.

Uma senha. O abracadabra que abre ambos os olhos e espaço quando a magia acontece.

 

Esta é a idéia por trás (25 de dezembro (Performance) / cidade de Uauá). Após uma longa e aventureira viagem de ônibus, Gonzague viajou para Uauá, pequena cidade no coração do Sertão, região mítica do Brasil, cheia de magia e messianismo, para falar em francês com um megafone no dia de Natal na frente da paróquia de São João Batista. Nesta performance, ele se expressa em francês para alcançar o outro em uma linguagem que seria imaginária, onde apenas a melodia dos sons seria combinada sem qualquer ligação com um significado ou uma compreensão imediata, na perfeita confusão do momento.       

 

Em (Carro do Som (Performance) / Alagoinhas), ele retoma esta mesma idéia de se expressar em francês diante de um público distante dos grandes centros urbanos, alugando, por uma hora, uma combi com motorista, (O carro de Som), uma espécie de van muito comum nas cidades do interior da Bahia, que muitas vezes transmite publicidade e propaganda ao vivo através de um sistema de som extremamente potente. Esta performance levará  uma pessoa, por mímica, a se expressar em francês sem ter nenhum conhecimento prévio desta língua, tocando os sons da língua como se estivesse cantarolando a melodia que acabou de ouvir. 

Finalmente, Gonzague publicou um livro sobre o sudoeste americano (4430 miles au compteur / Montréal : Les 400 coups) e elaborou vários travelogues de viagens, inclusive: Israel (הזמן עושה את שלו - O tempo fará o seu próprio), Irã (در خمشى خروش كن - Fale alto em seu silêncio), Japão (ブラブラする - Bura bura suru) , Rússia (Из России с любовью - Desejos da Rússia), Líbano (بعدنا - Depois de nós), Brasil (Venturis Ventis - Aos ventos que hão de vir), México (Y el mar se sienta junto a mí - E o mar fica ao meu lado), Canadá (Sic Itur Ad Astra - Esse é o caminho para as estrelas), Quebec (ᐊᓄᕆ ᐅᖅᖁᓯᔪn - O vento aquece), Portugal (Buscar na linha fria do horizonte) e Turquia (oriental) (Kuşlar da Gitti; Então as pássaros se foram...). 

O trabalho artístico de Gonzague utiliza múltiplas mídias nas quais ele procura circunscrever, domesticar e transcender uma relação com o realismo mágico, para desestruturar o visual, para confundir os sentidos. Seus diários de viagem, ao acumular imagens de todo o mundo, sublimam esta presença da realidade e nossa relação com ela, e finalmente contextualizam seu trabalho plástico. 

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